Comunicação Inteligente

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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Colecionando afeto

A colunista Rosane Araújo conta como o que fazemos em nosso dia a dia influencia os filhos o tempo todo - e muitas vezes nem temos noção disso

ThinkStock

Você já pensou em coisas que um dia vai fazer com o seu filho, como passear de carro no banco do carona com ele ao volante? Ou lhe pedir um conselho sobre um assunto qualquer?

Enquanto nossos filhos são bebês ou crianças, é difícil imaginar essas e outras situações. Um dia, em vez de conduzi-los, fisicamente ou afetivamente, nós é que acabaremos sendo conduzidos.

Esse momento ainda vai demorar a chegar para mim, mas, desde que Daniel entrou na adolescência, consigo vislumbrar algo no topo do horizonte – ainda distante, mas já está lá.
Agora, olho para ele – de baixo pra cima – e vejo um rapaz de voz grave, alguns fiapos de barba no rosto e um abdômen de tanquinho, trabalhado ao longo de seus 14 anos de muita atividade física.

É óbvio que sou uma mãe coruja, orgulhosa e babona, como presumo que seja a maioria das leitoras desta coluna. Mas, antes de falar da experiência “quase adulta” que vivi com ele, preciso contar algo de que ainda não falei aqui.

Há três anos, comecei a colecionar moedas, mas não daquelas de valor monetário. Moedas de valor afetivo, que só se ganha com suor e muita vontade de cruzar a linha de chegada.
Tenho 17 delas, conquistadas em corridas de rua das mais variadas distâncias.

Minha coleção foi valorizada no ano passado, quando consegui completar a Meia Maratona do Rio, o maior percurso que corri até então. A medalha veio com lágrimas, câimbras e uma alegria que nunca tinha sentido antes. A alegria de fazer algo que jamais imaginei que fosse capaz de fazer um dia: correr 21 km sem parar ou caminhar.

Veio o dia seguinte e outros tantos. E eu ali, nas minhas corridinhas quase diárias, voltas e voltas na Lagoa Rodrigo de Freitas e a assessoria da equipe do professor Lauter Nogueira.
E eu pensando que Daniel não estivesse vendo essa transformação acontecendo em mim. Então veio a surpresa.

Num belo sábado, enquanto eu me preparava para mais uma corridinha de fim de semana, ele pediu para me acompanhar. Como assim? Aquele menino que eu amamentei, carreguei no colo, troquei fraldas queria me acompanhar num programa de gente grande?

Fiquei imaginando se ele iria conseguir me acompanhar ou se iria desistir no meio dos 7,5 km que circundam a Lagoa. Na pior das hipóteses, voltaríamos andando para casa. Foram mil pensamentos em milésimos de segundo, mas é óbvio que eu topei na hora.
Acho que eu era a pessoa mais feliz do mundo nesse momento (se ele ler a coluna, vai ficar sabendo agora).

Falei para ele que, se não aguentasse, poderíamos caminhar. E colocamos nossos fones de ouvido e saímos correndo como dois adultos.

No fim das contas, fui eu que pedi para andar um pouco. Ele estava inteirão. E assim fomos, correndo e caminhando, ouvindo música e falando pouco. E foi um dia lindo!
Passada a emoção da estreia, já demos juntos mais algumas voltas na Lagoa, inclusive correndo direto, sem caminhar.

E, para minha surpresa, hoje, enquanto eu trabalhava, Daniel me telefonou para contar que deu uma volta na Lagoa, sozinho, em 36 minutos e quarenta segundos. Fez 7,5 km num tempo que eu mesma nunca fiz.

O menino que nada, corre, joga futebol e tênis segue experimentando os esportes – não para se tornar um atleta, mas pelo simples prazer de estar em contato consigo mesmo, conhecer seus limites, ser feliz.

E eu? Bem, no último dia 17 de julho, corri a Meia Maratona do Rio pela segunda vez. Fiz o percurso em 2h44min55seg. Melhorei meu tempo em 9 minutos em relação ao ano passado e cheguei em 1592º lugar entre as mulheres. Bem melhor do que em 2010, quando fui a 1617ª colocada. Ou seja: deixei 25 pra trás! Enquanto isso, minha coleção de moedas afetivas só cresce.

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